sábado, 16 de junho de 2007

Portugal 4-0 Israel (Europeu de sub-21)

O melhor e o pior do futebol.



Muito pode ser dito depois dos jogos desta noite, após os quais a selecção portuguesa ficou afastada das meias-finais do Europeu de sub-21. Antes de mais, as palavras dos protagonistas:

«Se Portugal jogasse sempre como hoje, seria a melhor equipa deste grupo» Guy Levy, seleccionador de Israel

«Os jogadores mereciam as meias-finais e não foi por culpa deles que não o conseguiram» José Couceiro, seleccionador de Portugal

«Houve momentos no jogo em que senti dificuldades, mas a vontade de ganhar era tão grande que nem deu para pensar no cansaço. Nunca deixei de lutar» Ricardo Vaz Tê

«Devíamos ter jogado assim desde o início», Manuel Fernandes

Todos têm razão, e sublinham os pontos principais da prestação da selecção portuguesa neste torneio. Digo mais, se Portugal jogasse sempre assim, era a melhor equipa do torneio, mas não, eles não jogaram assim desde o início, só a partir do momento em que o seu destino já estava nas mãos de outros. Se o seleccionador, aquele que tem de incentivar os jogadores, prefere continuar a culpar terceiros (será assim tão difícil admitir que a culpa é, pelo menos em parte, dele?), um jogador mostra a única atitude que se pode ter: não se pode pensar no cansaço nem nas adversidades, tem que se ganhar naqueles 90 minutos. Fazendo isso, qual o resultado? Uma vitória por 4-0.

Sim, Israel não tem a qualidade futebolística de Holanda e Bélgica, e Ricardo Vaz Tê não jogou nesses jogos, mas alguém duvidará que se a atitude tivesse sido esta desde o início, teríamos mais de um ponto (e de 17 remates) ao entrar para o último jogo? Contra Israel foram 25 remates.

Muito foi dito também, nos comentários da TVI durante os jogos, sobre o posicionamento dos jogadores, principalmente no aproveitamento (ou falta dele) das rotinas usadas durante toda a época no Sporting. Foram óbvias as melhorias que se sentiram no jogo com Israel, quando Miguel Veloso pôde jogar sozinho em frente aos centrais, saindo Manuel Fernandes para uma posição mais solta, da qual pudesse criar mais jogo atacante e de onde marcou um golo. E ainda mais notória foi a diferença que Ricardo Vaz Tê fez no jogo quando deixou a ala direita para procurar áreas mais próximas da baliza. Há que deixar os egos dos treinadores de parte, e saber adaptar as tácticas aos jogadores, não forçá-los a jogar em posições às quais não estão rotinados e depois culpar árbitros e a organização porque a experiência não resultou.

Apesar de tudo, há que reconhecer que a selecção de Israel é muito fraca. 4 remates e 1 canto (Portugal teve 12) neste jogo. Saem do Europeu com 3 derrotas e um total de 0-6 em golos. O que leva à pergunta: como é que, havendo 51 selecções dispostas a participar neste torneio, a de Israel foi apurada? Bom, ainda há pouco tempo dizia o quão injusto é, que para chegar ao Europeu de 2008, a selecção A de Portugal tenha de fazer 14 jogos, e se for apurada, faça apenas 6 jogos nesse torneio (caso chegue à final). Ora, Israel, assim como todas as outras selecções presentes (à excepção da organizadora Holanda), fez apenas 4, para um máximo de 5 no torneio. É preciso encontrar um equilíbrio entre grupos de 8 equipas a duas voltas e a anedota que foi esta qualificação, com grupos de 3 equipas a uma volta. Alguém já se apercebeu disso, e a qualificação para o próximo Europeu sub-21 terá grupos de 5 e 6 equipas, após os quais também haverá um play-off (a reforma ficou a meio), num total de 10 ou 12 jogos.

Mas a minha crítica à selecção de Israel não fica por aqui. É de louvar que tenham aproveitado as regras da melhor forma e assim tenham chegado à fase final do Europeu, mas quando se está a perder por 4-0, há pelo menos que manter o espírito desportivo. Algo que o jogador Dani Bondarv não conhece, após ter entrado por trás às pernas de Nani (o que obrigou à sua substituição), reclamando que apenas tinha jogado a bola, quando o português já a tinha passado para a frente. Situação semelhante à de Eliran Danin, que depois de ser fintado por João Pereira, enfiou os pitons na perna do português, mas reclamou com o árbitro que ele se tinha atirado para a piscina. Ganhar ou perder, mas sempre com dignidade.



E ainda não falei do Holanda 2-2 Bélgica. Que surpresa. Tão grande como o golo de Mattias Jonson, ao minuto 89 do jogo Dinamarca 2-2 Suécia do Euro 2004, que apurou as duas equipas e deixou de fora a Itália. Neste jogo, o golo belga surgiu mais cedo, ao minuto 70, mas a partir daí, como diz o site do Eurosport, «Despite Portugal leading 4-0 at the time, it was Belgium who were going through at that moment, and both sides eased off». Não era preciso fazer mais nada. Aliás, as imagens são bem elucidativas. Quando estava 1-1, o guarda-redes belga, Logan Bailly, fez um espantoso voo para a fotografia num livre directo holandês, tão brilhante que conseguiu defender a bola que vinha direita a ele para dentro da baliza. O guarda-redes holandês, Kenneth Vermeer, teria de vir em seu auxílio, e quando Sébastien Pocognoli rematou, ele sabia que aquela bola lhe ia passar por entre as mãos, para o 2-2 final. Aliás, olha-se para a cara de Vermeer e percebe-se que ele se está a perguntar «será que não se notou muito?».

A verdade desportiva é uma coisa muito bonita. Vamos ver se a Sérvia também se lembra disso, no jogo com a Inglaterra, ou os italianos vão juntar mais uma história amarga para contar.

Uma última palavra para os comentários da TVI aos jogos. Para além de repetirem a classificação do grupo de 5 em 5 minutos, dizendo com quem Portugal vai jogar se passar, e dizendo que vamos jogar o play-off se a Inglaterra se apurar (mas não explicando porque é que não o jogaremos se eles não se apurarem), houve um comentário de que gostei particularmente. Quando, já no final do jogo, Manuel da Costa sofreu um valente chega para lá do capitão israelita e caiu (e aí não havia grande escolha, com um empurrão daqueles tinha mesmo de cair), após uma troca de palavras mais viva com outro jogador israelita, o árbitro, que não estava para se chatear, deu cartão amarelo a ambos (mas não ao jogador de Israel inicialmente envolvido). O comentador referiu que o capitão israelita não tinha agido bem, mas que Manuel da Costa «não precisava de cair daquela maneira». Bom, acredito que ele não precisava de ficar no chão tanto tempo como ficou, mas tinha de cair daquela maneira, tal foi o empurrão. E ficou provado que se leva cartão amarelo por fazer uma falta sem bola, e também por cair de forma inadequada.

Por hoje é tudo, amanhã há mais Europeu sub-21 :)

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