sexta-feira, 30 de maio de 2008

Descubra as diferenças, na terra de Ronaldo

Longe vão os tempos em que sofríamos até à última para ver a nossa selecção apurada para um Campeonato da Europa ou do Mundo, e muitas vezes ficávamos à porta, porque na última jornada não tinha havido aquela mágica combinação de resultados que nos dava a qualificação. Nos últimos anos, os jogadores portugueses têm-nos habituado mal: já não se fala da selecção como candidata ao apuramento, mas como pretendente ao título, e os editores aproveitam a onda.

A pouco dias do início do Europeu 2008 chega às livrarias o livro Ronaldolândia - Os segredos do futebol moderno, da autoria de José Marinho e editado pela Oficina do Livro. Para que a mensagem não nos passe ao lado, foi colocado um conveniente lembrete na capa: «para acompanhar as emoções do Euro 2008». E o autor diz-nos, logo na introdução, ao que vem:

«Confesso que nunca cheguei a ter esse dom de me situar nas minhas verdades bem acima da verdade dos outros, e, por isso, seria um idiota chapado se pretendesse fazer, com este livro, essa triste figura. Não creio que o tenha feito e não admito que o pudesse pensar.
(...)
Por isso, este livro não é um manual. Este livro é uma tentativa. De agradar aos leitores e de agarrar a oportunidade que a Oficina do Livro me deu.»

Pois bem, após dez minutos, já tomei a minha decisão: não me agrada. O autor, que trabalhou e foi editor em vários orgãos de comunicação social, incluindo o jornal O Jogo e o canal SportTv, pode avisar-nos que o livro apenas se tornou possível com as contribuições de alguns «homens do futebol», como Jorge Valdano e Humberto Coelho, mas daí até negligenciar por completo a forma correcta de escrever o nome de muitos dos jogadores e treinadores referidos no livro, vai um grande passo.

Alguns exemplos:
- o companheiro de ataque de Cristiano Ronaldo é o «Ronnie». Pode ser que o autor se esteja a referir ao campeão de mundo de snooker Ronnie O'Sullivan, mas é mais provável que seja Wayne Rooney;
- o anterior seleccionador inglês Steve McClaren, que não conseguiu levar a Inglaterra ao Europeu, aparece referido como «Steve McLaren»;
- na Juventus joga «Camaronesi». Não será Camoranesi?;
- outro italiano, Fabio Cannavaro, surge como «Canavarro» (até custa a dizer);
- no mesmo Real Madrid de Fabio Capello jogava «Beckam». Ou seria David Beckham?;
- o meu guarda-redes preferido neste momento é Petr Cech, não «Cehc»;
- no mesmo «Chelsea de Mourinho disfarçado de Grant» aparece «Makekele», e não o internacional Makelele, que surge sim na selecção de França;
- o cançonetista popular «Emanuel» foi campeão do mundo pela França em 1998? Não, foi Emmanuel Petit...

Sucedem-se de tal forma que a certa altura já não é possível estar concentrado na leitura do livro, transformando-se numa busca ao erro.

É caso para dizer que nem é tanto pelo Euro que este livro surge em boa altura: vai longa a discussão da necessidade de elevar o nível das revisões de texto, nos livros, mas também nos jornais, canais de televisão, e até em anúncios publicitários.

Ou simplesmente não se faz revisão de texto? Cada vez mais me parece ser esse o caso.

(por razões óbvias, este post tem direito a dupla publicação: aqui e no pilha-livros.)

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